Rodolfo Fernandes, na região Oeste, distante 390 km da capital, fica na divisa com o Ceará. A história da cidade está vinculada a Francisco Régis Filho, comerciante local e proprietário de terras onde havia grande quantidade de gatos do mato, também chamados de maracajás. Antes de virar Rodolfo Fernandes, teve três nomes: Serrotes dos Gatos; Fazenda Gatos e São José dos Gatos. Já século XX, em maio de 1962, passou a chamar-se Rodolfo Fernandes em homenagem ao filho da terra, comerciante e industrial renomado, com forte atuação na indústria salineira em Macau e em Mossoró.Há mais ingredientes nessa história: a grande seca de 1877, sofrimento, morte, fé e devoção. A cidade também é conhecida por atrair, todos os anos, peregrinos de todo o Brasil para o santuário construído para as Meninas das Covinhas, uma história de fé e sofrimento construída ao longo dos anos com a participação de Raimundo Honório Cavalcante de Oliveira, conhecido como Bento Honório, falecido em 2016.
A grande seca de 1877
Em Rodolfo Fernandes, uma cruz marca o local onde, em 1877, duas meninas irmãs morreram de fome e sede. Estavam acompanhadas pelos pais e outros retirantes em fuga de uma das mais terríveis secas que atingiram a região. Essa história que mistura fé, devoção e sofrimento teria começado com uma senhora conhecida como Mãe Cândida, que aos netos relatava o episódio da morte das meninas relacionando-o a um suposto clarão que as crianças diziam ver no local.
Um desses netos era Raimundo Honório Cavalcante de Oliveira, conhecido como Bento Honório, que em 1953 realizou o sonho de comprar a fazenda Sossego, e que acabou se tornando precursor de uma história de muita fé, que tem atraído pessoas de várias partes do Brasil: a história das Anjinhas das Covinhas. Bento garantia ter sido curado de uma doença grave depois de fazer uma promessa.
Ao ter sua prece atendida, Bento Honório construiu uma igreja em homenagem às Meninas das Covinhas no local onde foram sepultadas e que tornou-se um centro de romaria, no município. No interior da capela, além das covinhas onde foram sepultadas as meninas, estão expostos ex-votos, fotografias e pertences pessoais deixados por pessoas garantem ter alcançado uma graça.
A história foi objeto de uma tese de doutorado em Ciências Sociais pela UFRN, defendida por Irene de Araújo van den Berg Silva em 2010 (disponível aqui). De acordo com o resumo do trabalho, o estudo busca “analisar a constituição e a dinâmica desse espaço a partir das relações sociais e simbólicas que o instituem e fomentam enquanto referência religiosa da região onde ele se situa. Nessa intenção, são evidenciadas três dimensões: a das práticas, que atuam (re)produzindo ritualmente os significados que põem a devoção às Meninas das Covinhas em curso; o conflito, que sugere a qualidade polifônica do santuário quando os diversos sujeitos envolvidos naquele espaço colocam em relação sentidos e interesses que frequentemente coligem; e as mudanças, que resultam em maior ou menor grau das percepções, disposições e operações dos sujeitos que vivem o santuário na prática, de modo a mantê-lo num processo constante de invenção”.
Documentário
A história das Meninas das Covinhas virou também um belo documentário (foto abaixo, reprodução de Vimeo.com) elaborado por Tulio Dantas, Catarina Doolan e Lorena Gurgel, alunos do curso de Comunicação Social da UFRN em 2009 (assista aqui).
A festa é realizada no dia 12 de outubro, Dia das Crianças e Dia de Nossa Senhora de Aparecida. Raimundo Honório, o Bento das Covinhas, morreu no dia 24 de maio de 2016. A Igreja das Covinhas fica a 5km da área urbana de Rodolfo Fernandes.