Artes plásticas: tem gente nova (e talentosa) no pedaço
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Artes plásticas: tem gente nova (e talentosa) no pedaço


Se você gosta de novidade quando o assunto é arte, tem gente nova (e talentosa) na área. Guarde bem esse nome: Ariel Guerra, uma arquiteta que abraçou as artes plásticas. "É meu modo de fala, minha leitura de mundo", resume.

'Os traços, os tons das telas em acrílico, a mexida proposital e estratégica na escala de rostos e objetos, as cores e o apego ao cotidiano e ao regionalismo lembram os traços da consagrada Tarsila do Amaral. “Surgiu naturalmente”, conta Ariel (veja aqui alguns trabalhos da artista). Não foi uma inspiração, mas desde quando a semelhança com a obra da artista famosa foi identificada por pessoas mais próximas e gente ligada ao setor, isso passou a ser motivo de orgulho. “Boa parte da arte hoje em dia tem um pouco dela”, resume.

Arquiteta por formação, 24 anos, ela é caicoense de coração, mas brinca que nasceu na capital por acidente. “Minha mãe veio passar um final de semana aqui em Natal e eu decidi nascer”.  Mas o ‘nascimento’ da artista plástica que vai conquistando seu espaço na cena cultural de Natal aconteceu há exatos 9 meses, quando decidiu deixar o emprego num escritório de arquitetura para dedicar-se à vocação que vem desde a infância, em Caicó, a 280 km de Natal. “Desde pequena eu desenhava. Era algo natural”, lembra.

           Pescador de Cores, tela em acrílico 

De lá para cá, a arte vem tomando conta da rotina de Ariel de tal forma que ela nem se dá conta de quantos trabalhos já foram produzidos. A certeza é que as obras estão espalhadas por murais de hotéis, restaurantes, residências em Natal e até no exterior. Em abril deste ano, junto com outros 17 artistas brasileiros, participou do Festival de Cultura Brasileira de Gmünd, na Áustria.  O “Pescador de Cores”, acrílico em tela, enviado para a exposição, ficou por lá. Em Natal, o talento foi reconhecido em mostras com novos artistas. "Contos de Maré", por exemplo, foi agraciada com o 4° lugar no Prêmio Ruy Pereira de Artes Visuais. Já tem participação confirmada na Casacor, um dos mais importantes eventos da área de arquitetura, design de interiores e paisagismo. Um quadro inspirado no filme Bacurau foi dado de presente à governadora do RN, Fátima Bezerra. 

Mas não só o cinema inspira. A música também. Dez telas de Ariel fazem parte de uma coleção denominada Líricas. E o olhos da artista adquirem um indisfarçável brilho ao falar sobre essas mulheres que saem da melodia para o papel. “Pego  uma figura feminina que tem nas música e retrato na tela”, explica. O olhar sobre a MPB rendeu quadros como “Mama África” (de Chico César), “Kalu” (de Humberto Teixeira e interpretada por Dalva de Oliveira), “Pagu” (de Zélia Duncan e Rita Lee) e “Olhos nos Olhos” (de Chico Buarque de Holanda), o preferido da artista. “Esse eu não vendo”, confirma. “Tem outra também que eu não vendo, que é “Amapoula”, que não é MPB, mas que eu resolvi fazer. São da minha coleção particular”.

Ariel e Jéssica, no show Projeto em Branco, realizado em 2018 na casa da Ribeira . Foto: Ayrthon Medeiros

“Olhos nos Olhos” foi exposta durante o show Projeto em Branco, parceria com a namorada Jéssica Pessoa  e o artista Artur Porpino, um encontro das artes plásticas com a música. No show, durante 1 hora e meia, Porpino e Jéssica montam os arranjos ao vivo pela adição de diversas camadas de instrumentos e vozes utilizando a técnica do looping. “Daí surgiu a ideia de inserir no show, realmente, uma tela em branco”, conta Ariel, responsável pela sensibilidade de captar e transformar em tela a presença feminina em uma das músicas interpretadas pela dupla. Essa mulher nem precisa estar explicitamente nomeada, mas sentida, caso do quadro preferido da artista.

 Ariel e o quadro preferido, Olhos nos Olhos, inspirado na canção de Chico Buarque 

Ela conta que a opção pelas artes foi um processo longo. “Acho porque desde pequena eu via meus pais fazendo arte, mas como forma de um hobby. Não era um trabalho”. A vida seguiu em frente e ela começou a cursar arquitetura. “Escolhi arquitetura pelo lado artístico. Não era boa em cálculo, mas vamos lá!! Dentro do curso de arquitetura eu me identifiquei logo com o lado das artes. E desde o estágio na faculdade, o pessoal falava que eu pendia mais para o o lado das artes”, relata.

Com essa vocação natural, acabou trabalhando em projetos mais ligados à arte. Começaram então a surgir as encomendas. “Era uma encomenda aqui, outra ali. E eu estava me sentindo muito mais feliz fazendo isso do que projetando num escritório de arquitetura. Eu amo arquitetura, mas eu vi que eu conseguia falar melhor. Porque o meu modo de fala, minha leitura de mundo é a arte”, resume Ariel. “E aí foi uma aceitação. De ver essa arte como uma trabalho. Porque é. Eu sou artista plástica, eu sou artista visual e eu vou viver disso”, dizia pra si mesma.

Entregadora de Frutas, quadro inspirado no cotidiano 

Hoje, a tecnologia que a ajuda a montar os projetos também vira vitrine, através das redes sociais. “Tem uma fila de trabalho. Esse mês (setembro) eu não consigo pegar mais nada”, garante. O processo de criação passa por uma visita ao cliente e identificação do ambiente.

Com ajuda da informática, uma tela como a "Entregadora de Frutas" sai em uma única manhã. É rascunhar, passar para o computador e daí imprimir. Nessa última fase, se a artista optar (ou se o cliente pedir) por uma pintura feita a mão, o processo dura dois dias. Ultimamente, o ritmo dos pedidos tem forçado a artista a adotar o método mais rápido. “Tem mais de um mês que eu não toco no pincel”, conta.

“Gosto de ir no local para fazer a escolha das cores, para que a tela, o mural possa compor o espaço. Olhos as cores que tem no local, o que o cliente quer fazer com a tela. Quais as emoções, se tem algum ponto da vida do cliente que ele quer relembrar ... um local. Trabalho sempre de uma forma bem lúdica. Nunca vou retratar um ambiente da forma como ele se apresenta. Incluo alguns elementos da vivência do cliente. Mexo um pouco com as escalas dos elementos”, explica.

Ariel Guerra, arquiteta e artista plástica, natalense radicada em Caicó (ou caicoense nascida em Natal) segue sua trajetória artística tendo com referência o cotidiano simples das pessoas, as paisagens do litoral e do interior. 

Caicó, naturalmente, tem lugar reservado nessas memórias transformadas em arte. Virou tela. Natal, idem, com seus símbolos naturais. Se a arte acalma, também parece ser remédio para a timidez.

 Ariel Guerra, no estúdio, mostra as telas Caicó e Natal: origens

Texto: Renato Moraes

Imagens: acervo pessoal da artista, Ayrthon Medeiros e Renato Moraes


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